quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

QUINTA DE POESIA





              CONTRA

À miúde me vejo a pensar
Quando ouço outros poetas
Porque não me ocorreu tão belo verso
Frase, música, som, construção, rima
Paginação, afeto, humor, amor...?
Quem diria tanta coisa tão bem!
Corro à janela com os olhos ardendo
De piedade por mim mesmo, será?
Será que demora tanto para eu ter
A alma madura o suficiente pra produzir
Uma fuga, nem diria uma sinfonia
Alguma coisa que, ao reler, eu diria
Bem, parece melhor que as banalidades habituais
E me vejo escrevendo exatamente uma!
Não, não e não me digo, muda de estilo
Cai numa rima, gargalha numa valsa,
Te imagina o condutor da NY Philarmonic
Ou no centro de Beijim dizendo oh! Senhor
Que raios estou eu fazendo aqui ao invés
De estar sob as cobertas a escrever
Palavra após palavra numa cartolina branca
Com a minha caneta preferida de ponta preta
O que não requer esforço maior do que ouvir
O som de sua ponta, ver a forma das letras
A formarem palavras, palavras versos
Versos, frases, conjunto Pirex inquebrável
Põe no forno de micro-ondas pra ver se explode
E não me finjas surpreso porque sabias de antemão
Que o contra-senso estava vindo
Na verdade, já estava aqui quando eu cheguei.  

Paulo Corrêa Meyer



Imagem: via nighttattoo

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